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Os Miseráveis


Um dos filmes mais comentados do ano, sem dúvida é Os Miseráveis (Les Misérables, 2012) , dirigido pelo inglês Tom Hooper. E, com suas premiações no Oscar, repercutiu ainda mais.
O que mais foi ressaltado é o excesso de música no filme (mesmo para um musical), realmente há um exagero que o deixa cansativo e massante. Porém, ele prova seus méritos com uma belíssima fotografia, figurinos incríveis, roteiro clássico e interpretações excelentes e até mesmo viscerais, principalmente de Hugh Jackman e Anne Hathaway, que aparece apenas poucos minutos do filme mas que encanta com a sua versão de "I Dreamed a Dream" (não é a toa que faturou o Oscar de melhor atriz coadjuvante). 

Anne Hathaway como a mãe sofrida Fantine

Baseada no livro de mesmo nome, escrito em 1862 por Victor Hugo (que retrata a miséria e a desigualdade social gritante de sua época narrando a grande história de Jean Valjean, um homem pobre que rouba pão para saciar a fome de sua irmã e é preso por isso) e apesar da obra já ter sido retratada inúmeras vezes e de diversas maneiras tanto no cinema (existem versões indianas, japonesas, coreanas, árabes e brasileiras para o épico) quanto em musicais da Broadway, Hooper consegue surpreender até mesmo os que não são apreciadores de seus trabalhos.

Hugh Jackman como Jean Valjean, o protagonista da trama

Na minha concepção, a obra prima do filme é o fato de Hooper ter capturado as vozes dos atores por som direto, no auge da cena e da emoção ao invés de serem gravadas em estúdio e depois dubladas pelos mesmos (como de costume na maioria das obras hollywoodianas), e foi o que gerou as atuações espetaculares, mas também trouxe notas desafinadas, gritos arranhados e alguns errinhos no tom, o que pra mim deixou ainda mais verdadeiro e interessante. O diretor optou por buscar a emoção de seus atores ao invés de técnica, a entrega máxima ao invés da perfeição. E esse é o maior diferencial desse musical e o que envolve o espectador à trama, o filme não é composto por encenação e sim por atuação. 

Helena Bonham Carter e Sacha Baron Cohen como Senhor e Senhora Thénardier. Apesar de vilões, representam a parte cômica da trama

Apesar do estilo de Hooper e seu diretor de fotografia, Danny Cohen (O Discurso do Rei) para recriar um gênero clássico de forma autoral com enquadramentos obtusos, close-ups com lentes grande-ocular (distorcendo a perspectiva do quadro) e a descentralização dos objetos incomodarem a muitos espectadores, é ele quem traz o tom mais intimista à trama e aos personagens, combinando com a estética teatral buscada. O filme de Hooper consegue, traduzir, à sua maneira, a qualidade épica do texto clássico de Victor Hugo e as misérias da época, os méritos compensam as desvantagens da obra. Pegue um café (afinal o filme tem quase três horas de duração) e bom filme!



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