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As Horas

 O filme, As Horas, baseia-se no livro de Michael Cunningham, que, por sua vez, se inspirou no romance “Mrs. Dalloway” de Virginia Woolf. O enredo trata da história de três mulheres que carregam em suas vidas muitos sentimentos em comum, como a insatisfação e o fracasso.
São retratos de vidas em épocas diferentes, que se entrelaçam através de um livro, “Mrs. Dalloway”. É um filme de alma feminina, onde, nos artifícios da trama, outras mulheres se reconhecem no drama existencial de cada uma das personagens, humanizando assim o lado da ficção. Uma mulher que gostaria de ser uma personagem de um romance, uma que o escreve (a própria Virgínia Woolf, brilhantemente interpretada por Nicole Kidman, que é totalmente caracterizada para o personagem, ficando irreconhecível), outra que o vive.
Acompanhamos, dessa forma, um dia na vida dessas três mulheres. São três histórias em espaços temporais distintos, mas intercaladas na narrativa. Virginia Woolf é a escritora do livro, que afastada da vida agitada de Londres por seu marido Leonard Woolf (interpretado por Stephen Dillane), a conselho médico, percebe-se a cada dia, mais infeliz e amargurada. A mesma,é retratada na altura em que escreve o livro em questão, onde seus conflitos internos são repassados para a obra, inclusive o suicídio. A segunda mulher é Laura (interpretada por Juliane Moore), dona de casa, esposa e mãe. Ela encontra-se desesperada dentro de um casamento onde os sentimentos são artificiais, pois embora viva num ambiente de tranqüilidade e aparente felicidade, se sente vazia e cogita a morte para escapar da realidade da sua vida medíocre; ela está a ler o livro de Virgínia Woolf, o qual reforça sua idéia de evasão e suicídio. O possível suicídio de Clarissa (que nos é mostrado de uma forma simbólica) ocorre da mesma forma que o suicídio de Virginia, Laura morreria afogada, entrelaçando mais uma vez as histórias. A terceira é Clarissa (vivida por Meryl Streep), uma bem sucedida editora, mulher cosmopolita do século XXI, vive um relacionamento lésbico de longa data e se identifica paradoxalmente com Mrs. Dalloway. Tudo o que Clarissa deseja no momento é que sua festa em comemoração a atribuição de um importante prêmio à obra poética de Richard (Ed Harris), seu melhor amigo e ex-amante dê certo. Richard encontra-se debilitado pela AIDS e vive fechado em um apartamento frio e sujo. No meio dos preparativos, Clarissa pressente o vazio daquela arrumação fútil e o peso das horas.
O desespero das três mulheres vai crescendo com o passar das horas, horas sempre iguais, horas sem nenhuma esperança de mudança, sem nenhuma ansiedade, só a ansiedade provocada pelo nada. Solidão, infelicidade, doença, identidade e realização sexual (nas três tramas as personagens beijam outra mulher na boca), e principalmente a morte. As situações de entrelaçamento das histórias são muitas, a maioria das coisas que acontece com uma acontece com outra.
            Richard também não agüenta a pressão de sua doença e de suas tristes lembranças e se joga da janela de seu prédio, cometendo suicídio. A partir daí descobrimos que as histórias são totalmente dependentes uma da outra, formando uma mesma história. Laura é a mãe de Richard, que com seus próprios problemas não é uma boa mãe para seus filhos, os rejeitou, os esqueceu; causando a morte de ambos. Richard alega não ter se matado antes apenas pelo seu amor por Clarissa, que o ajudou por quase toda a sua vida, dando a atenção e o amor que faltou de sua mãe. Então, ela finalmente se sente livre para viver seu romance com sua amada.
As lutas e sofrimentos vivenciados pelas três mulheres são universais. As horas... os momentos... as decisões que tomamos. Talvez nos encontremos nas situações extremas de cada uma das personagens; cada uma delas lutando para dar um sentido à suas existências e ser simplesmente feliz. Três mulheres presas no tempo e no espaço, nos seus próprios espaços, nas suas vidas. Ao ser levantado o tema da morte, das escolhas, da sexualidade, das decisões, vemos que as personagens descobrem que nem sempre a vida é aquela que esperamos, nem sempre as horas são diferentes. O que são essas horas até perceberem que as perderam para sempre? A emoção limite, que nos leva a tomar decisões e fazer escolhas que modificam a nossa vida para sempre.

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